21 de dez. de 2010

A lenda do violeiro


Reza a lenda que no norte de Minas, às margens do Rio Urucuia que foi tema do livro "Grande Sertão - Veredas" do consagrado escritor João Guimarães Rosa, nas noites de sexta-feira, próximo à meia-noite, um misterioso pirangueiro descia rio abaixo em sua canoa, ponteando sua viola em uma afinação desconhecida na região até então...

A população ribeirinha tratava de fechar as janelas de suas cabanas e se punham a rezar ao ouvir o ponteado daquela viola misteriosa... um ponteio diferente... um "toque" nunca antes ouvido que enchia aquele povo simples de pavor e admiração pois a viola sempre foi um instrumento típico do meio rural desde os tempos da colonização; Foi trazida de Portugal para o Brasil pelos primeiros colonizadores e Jesuítas que utilizavam seus acordes harmoniosos em cantigas de roda e cânticos religiosos... Não é à toa que até hoje ela é o instrumento tradicional da "folia de reis" no Sudeste, dos "desafios" entre repentistas no Nordeste e das polcas, guarâneas e raqueados do Centro-oeste... O violeiro de antigamente gosava de um certo "status" na sociedade daquela época, era convidado tanto para as festas religiosas como para os "desafios" e "arrasta-pés" do sertão... Mas naquela região do Urucuia algo de sobrenatural estava acontecendo...

Aquele "violeiro" não era deste mundo... ninguém em sã consciência desceria religiosamente nas noites de sexta-feira rio abaixo ponteando a viola naquela escuridão com tanta naturalidade e maestria... Logo boatos começaram a circular: o misterioso violeiro não era ninguém mais que o próprio "dito cujo", o "capiroto", o "tinhoso" em pessoa que descia rio abaixo à procura de violeiros com coragem suficiente para desafiá-lo... ou quem sabe à procura de moças desavisadas, apaixonadas pelo ponteio da viola que até hoje "encanta" tanta gente...

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